01/06/10

O poeta que todos querem vencido e desaparecido

O Partido Socialista anunciou o seu apoio oficial à candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República. A coisa, naturalmente, não surpreendeu ninguém. Afinal, o poeta já tinha dito que era candidato. O PS, era sabido, precisava de um. Na verdade, era sabido, precisava de qualquer um.

No entanto, por momentos, o partido parece ter vacilado. O Bloco de Esquerda, afinal, também apoia Manuel Alegre. Nada de grave. Apesar de tudo, o casamento era possível. A noiva continuava esperançosa. O noivo sem remédio. O casamento fez-se. Mas fez-se a contra gosto.

Acerca disto, Mário Soares resumiu bem a ideia: em consciência nunca poderá apoiar Manuel Alegre, alguém que, na sua opinião, tem sido um traidor ao PS e, pior, fora um traidor ao próprio Soares; em inconsciência preferirá mesmo um homem como Fernando Nobre.

Apesar de tudo, José Sócrates diz-se «convicto» no apoio à candidatura de Alegre. E em grande medida devido à «visão progressista» deste. Não vale a pena dissecar o vazio mascarado da frase. Vale a pena, no entanto, esclarecer que este vazio não é inocente.

Ninguém no PS, na verdade, espera grande coisa da candidatura de Manuel Alegre. Ou melhor, espera-se grandemente que perca. Mas, e o que é mais importante, que perca pelas suas próprias mãos e, se possível, sem grande alarido. Francisco Assis, lucidamente aliás, já avisou: as eleições presidenciais «valem por si» e não servem para ilações de carácter partidário. Compreende-se. Manuel Alegre tornou-se num candidato rebelde que se tem habituado a fazer de Sócrates e do PS seu refém. Sócrates é um primeiro-ministro que aprecia governar sem ser particularmente importunado pelos ares de Belém.

Tudo contado, Sócrates protelou ao máximo a sua falsa indecisão. E procurará ao máximo não se imiscuir na campanha presidencial de Alegre. Apenas o indispensável. E da forma mais subtil possível. Ao que parece, aliás, ao poeta terá sido dada a liberdade de realizar a campanha como muito bem entender.

Ao contrário do que Mário Soares veio hoje dizer no Diário de Notícias, apoiar Alegre não é um «erro grave» e «fatal» de Sócrates. É, sim, por outro, um acto de simples necessidade e de sobrevivência. No fim de contas, afinal, Sócrates provavelmente até votará em Cavaco Silva, festejando com champanhe a derrota do poeta que todos querem vencido e desaparecido.

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