Kenzaburo Oe (n. 1935) é um escritor japonês que, aparentemente, recebeu o Nobel da Literatura em 1994. O segundo japonês a conseguir o feito, diz na contracapa do livro. Na minha vasta ignorância, desconhecia o facto. Aliás, na minha vasta ignorância, faltava igualmente o conhecimento da obra de Kenzaburo Oe. Curioso, lá me pus a ler Uma Questão Pessoal - publicado em 1964 -, um dos primeiros livros do homem. Ao acabar o livro, percebi porque não o conhecia. O livro é bastante fraco.
Uma Questão Pessoal, para quem conhece o imaginário privado dos japoneses, é inevitavelmente um livro sobre disfunções relacionais. Sobre a fuga. Sobre o medo das responsabilidades. E, mais japonês ainda, como não podia deixar de ser, sobre sexo. Sexo como escape, sexo como cura, sexo como ligação sincera entre homem e mulher.
O protagonista, Bird - alcunha que lhe deram deste novo -, é um homem nos seus vinte e muitos anos (mais ou menos como o próprio Oe na altura em que escreveu a obra) cuja mulher dá a luz um supostamente esperado bebé que se revela, já fora do ventre materno, um verdadeiro «monstro»: tem uma hérnia cerebral que lhe deforma o crânio ao ponto de parecer «ter duas cabeças». O próprio Bird diz que ele «não parece humano». E é assim que começa Uma Questão Pessoal, com um Bird perdido pelas ruas, bebendo, procurando guarida na casa de uma antiga namorada, competindo com jovens de gangs em máquinas de medir forças, envolvendo-se até em brigas. Regressão, regressão, regressão. Bird foge das responsabilidades.
O caminho que Bird fará é esse mesmo: o da fuga. É que, mais do que «não parecer humano» fisicamente, Bird lutará para reconhecer o bebé, nos primeiros dias de vida, como um humano em si mesmo. Como seu filho. Como sangue do seu sangue. Como alguém com direito à vida. Com direito a uma vida «normal», como várias vezes se interrogará ao longo do livro.
«O sonho com que Bird acordou era duro, o oposto do inocente sonho que o acompanhara enquanto se afundava no sono, uma coisa armada com rebarbas que inspirava angústia. O sono para Bird era um funil no qual entrava pela entrada larga e fácil e do qual tinha de sair pela extremidade estreita. Insuflando-se como um dirigível, o seu corpo atravessava lentamente a escuridão do espaço infinito. Fora citado pelo tribunal do outro lado da escuridão, e estava a pensar numa forma de os cegar em relação à sua responsabilidade pela morte do bebé. Em última análise, sabia que não seria capaz de ludibriar os membros do júri, mas sentia ao mesmo tempo que gostaria de apresentar um apelo. Foi aquela gente do hospital a culpada! Não haveria nada que ele pudesse fazer para escapar ao castigo? Mas o seu sofrimento só se vai tornando mais ignóbil à medida que ele continua a vogar, um patético zepelim.»
Os pesadelos de Bird, por assim dizer, são aquilo que faz o livro valer a pena. A interrogação. A deriva. A perdição, porque não? É que o resto, os metros e metros de linhas, o latim gasto (ou, neste caso, o japonês gasto), por várias vezes me fizeram sentir que estava a ler algo que não vale assim tanto a pena.
Não é um livro que valha muito por si mesmo a não ser se for pela comparação que se pode fazer entre o protagonista e o escritor por detrás do livro. É que Bird, no fundo, é o próprio Kenzaburo Oe, que no ano anterior à publicação do livro deu as boas-vindas ao seu recém-nascido filho com uma deficiência mental. E, provavelmente - ou de certeza absoluta, já que é assumido pelo autor -, as preocupações e fugas de Bird são as do então jovem Kenzaburo.
A identificação crua entre escritor e protagonista é muito gira, sim senhor. E há por aí quem goste muito da ideia de ler um livro de ficção e no fim sentir que a ficção afinal não era ficção. Mas, quando um livro é fraquito... será que isso interessa assim tanto?
Vc é burro demais pra entender a riqueza vasta das informações que o livro nos emite!Tenta se alfabetizar primeiro e depois tenta interpretar uma obra classica animal!
ResponderEliminarVc nao pensa no que diz porque o livro transmite o egoismo perante a sua familia...
ResponderEliminarCasualmente, somente hoje (01.06.2015) li esse texto do tal João Carlos Santana, mas nunca é tarde para deixar aqui minha opinião sobre ele: quanta burrice!
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