Mediocridade é uns quantos jornalistas andarem de poiso em poiso a entrevistar políticos banais, em relação ao tema... José Saramago, também ele um escritor banal. Pior ainda é a escolha de perguntas dos jornalistas: «acha que a morte de Saramago é uma grande perda para Portugal?», «consegue quantificar [juro que foi esta palavra que ouvi!] a perda que é a morte de Saramago?», «qual era o lado humano [o lado não-comunista, presume-se com a expressão cretina] de Saramago?», e por aí fora.
Eu, reavivando por momentos o meu lado optimista, ainda esperei que perguntassem à pessoa errada. A um deputado, talvez, mais ousado. Mais fora do comum. Mais desinteressado, que se estivesse marimbando para a sua imagem. Em vão. Desiludi-me uma vez mais. Em Portugal não há políticos com gostos e opiniões pessoais (quando virá o «nosso» Boris Johnson português?), apenas gostos de classe, de profissão e de bloco ideológico. E fica-se por aí.
Somos um povo medíocre. E, assim, como o classificou o Tiago muito bem, é apenas lógico que nos colemos na perfeição à imagem de Saramago, um escritor, ele próprio, «medíocre».
P.S.- que não se confunda a minha ferroada a Saramago com qualquer mau gosto, como se dançasse a lambada em cima da tumba do homem. Nada disso. Não gosto de pilhar a memória de quem morre, mesmo daqueles de quem não sou fã. E é apenas digno da minha parte, e uma boa forma de honrar Saramago nesta hora difícil da sua vida (caraças... saiu-me), ser honesto: Saramago escrevia decentemente, mas não sabia comunicar; tinha ideias interessantes, mas cujas parábolas deveriam ocupar uns oito versículos e não livros de trezentas páginas; não sei se era boa ou má pessoa, mas nos saudosos anos 70 lixou a vida a muito boa gente no sujo mundo da imprensa; finalmente, a canaille fazia melhor em admitir que viam nele mais o cavalo vencedor do que um escritor sedutor ou por demais interessante, que não era. Quanto ao próprio José Saramago, só posso dizer isto: boa viagem, encontramo-nos todos no outro lado, se o houver.
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