09/06/10

Uma visão optimista. Num cinema aqui ao lado

Descobri hoje que o João é um optimista. Pobre João. Triste João. E haverá coisa pior de se descobrir numa pessoa?

Acerca disto, diz o João, aqui, que a «democracia parlamentar» está em «risco» (puro exagero) e que os referendos só servem para divorciar o «povo» da «política» (pura patetice).

É claro que o João parte de um princípio de fé obscuro de que a política está, e vive, imóvel num Parlamento, qual Olimpo dos deuses patéticos. Não está. E não está porque é preciso perceber que a Política é um todo social orgânico, e que é, por isso, muitas vezes contraditória em si mesma. Porque nem todos os elementos de uma sociedade desejam o mesmo para si e para a sua comunidade. Pensar o contrário é não pensar de todo.

Ora, o que o João parece não entender é que a existência necessária de um Parlamento é, já por si, um factor de divórcio entre o «povo» e a dita «política». Razão simples: o Parlamento estabelece uma fronteira entre os indivíduos que, supostamente, fazem a verdadeira política, e os outros que, de quatro em quatro anos são chamados para aplaudir os verdadeiros actores da tragédia. Pior: o Parlamento tem tendência a fomentar essa ideia. Para supostamente se dignificar.

Isto é um erro. E é um erro porque se ignora que, sem um «povo» activo politicamente, não é possível erigir um Parlamento enobrecido. A linha ténue que une estas duas instâncias é, ainda assim, uma linha poderosa. Se uma é fraca, a outra mais fraca fica. Pelo menos numa democracia.

Daí, talvez, a importância da existência da figura de um Presidente (ou de um Rei, para todos os efeitos) que possa, através da sua existência específica, fora do arco partidário, promover essa ligação entre a sociedade e os políticos, duas realidades que tendem, naturalmente, ao divórcio. E daí a exigência de um Presidente que possua uma visão acerca do mundo e execute as suas prerrogativas sustentadas nessa mesma visão. Não o fazer, implica aniquilar-se. Ou no «povo» ou no Parlamento. Mas aniquilar-se ainda assim.

Óbvio que, como em tudo na vida, não é possível agradar a todos. Por isso é preferível que as nossas acções nos agradem a nós próprios. Em consciência. Não o fazer é bater fundo. E é perder tudo.

Assim, as questões que o João levanta fazem pouco sentido. Um Presidente não deve servir para equilibrar o «barco», ou, muito menos, para ser disto ou daquilo. Numa palavra, o Presidente (como qualquer bom governante, aliás) é eleito para apresentar ao país e aos seus cidadãos o caminho da sua consciência. Que não é melhor ou pior que a de outros. É a dele. E basta. Ou deveria bastar.

Ou será que é possível dizer, honestamente, que nada divide, em termos de «visão do mundo», Cavaco Silva e Manuel Alegre? – O outro, claro, não conta.

1 comentário:

  1. Depois das palavras vamos aos actos. Eu arranjo o ringue e combino todo o evento.

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