28/10/10

Guarda-costas

Uma boa parte das minhas leituras de viagem têm estado viradas para Comte, Schmitt, ensaios sobre nazismo e, recentemente, um ensaio de Miguel Morgado sobre a «autoridade». Escusado será dizer que, para minha satisfação pessoal, todos hesitam em sentar-se ao meu lado no comboio.

O Rolão Preto brasileiro

Feel good moment da semana: ouvir alguém dizer que a eleição de Tiririca significa a «ultra-direita» no Parlamento brasileiro.

25/10/10

Estado de espírito


Hoje acordei assim. Doente. Mais perto da morte do que ontem. The horror, the horror!

22/10/10

Trabalho de sofá


The Unusuals, série de 2009 que se ficou pela primeira temporada. Dá para rir um pouco mas, até agora, do que vi, tem desiludido, sobretudo por ter o irritante Jeremy Renner.

O fardo de ser francês


Tenho de admitir que, perante as greves gerais que a França tem «aguentado» nos últimos dias, guardo alguma simpatia no coração para com aquela malta. No coração ou no cérebro. Ou noutro sítio, que o Dr. António Damásio saberá melhor do que eu. O que interessa é que, estando num espectro ideológico muito diferente daquele em que a quase totalidade dos grevistas franceses se situarão, não posso deixar de pecar por alguma satisfação em ver a França a arder. Não pelas jovens parisienses, pela arte, pelo Truffaut ou pelas excelentes baguettes. Mas tenho de admitir que Nicolas Sarkozy e uma miríade de outros franceses me fazem pensar: you had it coming.

Aliás, este é um problema que os franceses terão de resolver, porque foram eles próprios que o criaram. A Carta de Amiens, de 1906, «cozinhada» e adoptada pela gigantesca CGT francesa - provavelmente o sindicato mais simbólico da Europa - lançou as bases daquela que viria a ser a orientação estratégica mais importante do sindicalismo revolucionário, a greve geral, muito em voga na Europa do Sul do início do século, incluindo em Portugal - onde, ainda assim, a via mais branda da negociação ainda tinha alguma adesão sindical. Trabalhadores sindicalizados italianos, espanhóis, portugueses, mas também alemães, húngaros e até suecos abraçaram, assim, a «acção directa» anarquista para lidar com o poder, com o «capital». De qualquer forma, a culpa não é deles. Apenas copiaram o modelo francês. Os franceses é que, com toda uma história de criar a confusão no próprio país, fizeram a cama em que agora se deitam.

Resta saber, no entanto, o que têm jovens magrebinos, africanos e anarquistas de mochila e lenço na cara a ver com o problema da idade da reforma dos trabalhadores franceses. Como tenho muitas dúvidas que seja solidariedade operária ou, mais improvável ainda, resposta por serem directamente afectados, apenas uma certeza me fica: é uma triste sina nascer francês.

21/10/10

Work in progress


Michael Burleigh, Moral Combat, HarperPress, 2010

A falácia da «responsabilidade política»




Se há coisa pior do que dirigir-me ao meu cubículo eleitoral em Janeiro e ver opções como Fernando Nobre, José Pinto Coelho ou Manuel Alegre tão acessíveis ao voto dos cândidos e dos loucos, é mesmo ver o tango que Passos Coelho e José Sócrates têm andado a dançar nos últimos meses. Sem grande responsabilidades para Passos Coelho enquanto líder do PSD, claro. Tirando o facto de não compreender que a melhor maneira de enfrentar - do ponto de vista partidário - um governo em queda é, simplesmente, ficar calado e não se deixar «contaminar», não se pode dizer que o líder do PSD já tenha destruído o partido, ao contrário do que muitos, incluindo eu, esperariam.

Não, o problema de Passos Coelho é outro completamente diferente. O problema dele, e cujas responsabilidades só a ele cabem, é continuar a pactuar com um governo que já tem caixão mas ao qual apenas falta uma data certa para cair. É prolongar durante meses a negociação de um Orçamento de Estado que está condicionado por todos os lados, quer pela herança que o PS quer deixar, quer pela preparação do terreno para as próximas eleições.

Inevitavelmente, enquanto «cara» da oposição ao governo, os Passos Coelho determinam o ritmo de toda a política nacional, e associar-se a um Orçamento que mais não fará do que incluir o PSD na responsabilidade da devastação económica de Portugal acaba por ser, ao contrário do que toda a gente pensa, mais um acto irresponsável do que de «responsabilidade política»: primeiro, o PS poderá dizer, daqui a poucos anos ou, até, meses, que as contas públicas continuam mal mas que o PSD não pode dizer que não compactuou com o plano orçamental; segundo, dá um balão de oxigénio a um governo caído em descrédito; e terceiro, o mais grave de tudo, prolonga o sofrimento do país, que, ainda que não tenha alternativas muito melhores, já está preparado para escolher pessoas e ideias diferentes para os próximos anos.

Resta saber se, com a estratégia da «responsabilidade política» - apenas virtual num país que sabe funcionar sem directivas, dependências e lutas partidárias -, o tiro não sai pela culatra a Passos Coelho.

15/10/10

Um grande filme


Sunset Boulevard (1950), de Billy Wilder

07/10/10

Oh!... a moral!

Num artigo do suplemento Expresso Emprego, a moral é remetida para segundo lugar e passa-se a tratar os bois pelos nomes. O título diz tudo: «Aprenda a vender-se!». De facto, em tempos difíceis, é óptimo seguir os conselhos da elite política. É a isto que se chama moralidade «de cima para baixo», o que, por sua vez, é uma óptima homenagem aos «ideais republicanos».

06/10/10

Animal político





Se um dia alguém lhe perguntar o que é a política no Brasil, responda: Tiririca foi o deputado mais votado do Brasil, com 1,35 milhões de votos. I rest my case.

Os ideais da República

Melhor do que apanhar uma estopada de pedagogia maçónica nos últimos dias - com António Reis e outros que tais a explicarem-me, através da caixa mágica, porque é que a República é espantosamente mais democrática e humanista do que Monarquia -, foi ver o aproveitamento político que foi feito, na actualidade, dos acontecimentos do passado.

Mesmo com a ressalva de que a República foi, em tudo, um falhanço, excepto no parcial sucesso de implantação de um novo regime (que não se conseguiu implantar nas «almas» mas fez ruir muito do estado de espírito anterior), não deixa de ser triste ouvir pessoas com altos cargos públicos em Portugal, como Helena André, ministra do Trabalho, a dizer que as recentes «medidas [de «austeridade»], que são duras e pedem sacrifícios a praticamente todos os portugueses, são absolutamente fundamentais para podermos prosseguir os ideais da República».

Não sendo homem de pedir muito, ao menos faço um apelo: alguém dê uma lição de História a esta senhora, sobretudo em relação à diferença entre «os ideais da República» e aquele que eles efectivamente deram a este país. Se vier aí outro 1910, então, acreditem mesmo nisto: não há PEC que nos salve.