Da discussão em redor da promulgação do diploma do casamento gay passou-se ao perfil de Cavaco. Daí passou-se ao papel do Presidente e do Parlamento. Daí passou-se ao referendo, ao regime, à democracia e, como quem não quer a coisa, aos insultos. Nada contra. Sou um apologista do insulto. Mas também gosto de discussão palpável.Coisa que foi escasseando nos últimos posts.
Ora, assim como o Lucky Luke competia até com a sua própria sombra, também o
Tiago não consegue evitar os duelos de pistolas em tudo o que é sítio, com um pouco de paranóia à mistura. Suspeito que, à maneira das terriolas do interior de Portugal, o Tiago, por via das dúvidas, vai votar de pistola na casaca, não vão as circunstâncias obrigá-lo a aplicar o seu conceito de democracia.
No entanto, caros leitores, não temam. A discussão está, pelo menos por agora, sanada. O Tiago tem a perspectiva dele, eu tenho a minha. A partir do pressuposto, comum a ambos, de que o regime parlamentar é «o melhor dos mundos possível», eu e o Tiago concordámos em discordar. Sem qualquer síndroma de Pangloss. É o melhor, mas está cheio de buracos.
Como já fui dizendo aqui, aqui e aqui, a minha posição pessoal é relativamente clara: estou satisfeito com a forma do regime que temos - democracia parlamentarista ou representativa - mas não com o «estado da democracia», e agradam-me petições e pedidos de referendo mas não acho que seja preciso um referendo para tudo. E reparem que disse que a minha posição era «relativamente» clara. Relativamente, apenas, porque não tenho, aqui ao meu lado, na secretária, um manual de liberalismo, ou de social-democracia, ou de marxismo, ou de federalismo ou do quer que seja para me ajudar a decidir melhor, e de forma mais coerente, sobre os dilemas e desafios que vão vindo na minha direcção. Gosto de decidir intuitivamente e pontualmente, mesmo que muitas vezes fuja a fórmulas, à lógica e, até, embora esperançosamente por raras vezes, ao bom senso.
Assim, e porque neste blog não é preciso recorrer aos referendos, vamos continuar a actividade normal, sem necessidade de converter uma das partes à vitória da maioria (que não há... ainda), e com a eterna possibilidade de cair a espernear. Aqui, o povo não decide. Decide cada um por si mesmo e vai-se à guerra. Sem baixar os braços. Porque é assim que a democracia deve ser.
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