No estranho mundo dos «estudos científicos» que são citados em revistas e em sites de alguma reputação, nunca deixa de ser curioso ver a humilde relatividade da coisa («um estudo» - um e apenas um) bem regada com generosas doses de generalização («os cientistas», «a comunidade científica», «os homens») e de banalidades.
Nomeadamente, banalidades como o produto de um estudo que demorou anos de investigação para concluir que, afinal, mulheres com decotes maiores têm mais facilidade em arranjar parceiro. Pudera. Será de censurar? Transparência, é o grande mote. Um homem, assim como qualquer mulher, procura, acima de tudo, transparência. Por detrás da boa aparência de um homem, uma mulher procura sempre o sentido de humor e a verdadeira personalidade. Por detrás da boa aparência de uma mulher, um homem procura sempre o verdadeiro tamanho de um par de mamas. Transparência. E honestidade, já agora.
Mas, para além das banalidades, há ainda outros estudos mais custosos. São aqueles estudos que nos fazem pensar se, na verdade, não se esbanja mais dinheiro com a ciência do que na burocracia inútil de Ministérios parados no tempo do D. Luís. Estudos que, segundo o que se diz aqui, provam que, na verdade, «o cansaço é psicológico». Ou seja, que os músculos, pobres diabos trabalhadores, não se cansam senão com ordens expressas de um cérebro preguiçoso.
Estranham, pois, que o grupo de cobaias humanas utilizado se tivesse dividido entre aqueles que não se cansaram num exercício de ginástica por terem antes visto «apenas» um documentário na TV, e aqueles que, por terem passado por uma «tarefa mentalmente exigente de 90 minutos antes de começar» a ginástica, não se aguentaram nas perninhas.
Não é de admirar. Apesar de eu não saber o que poderá ser uma «tarefa mentalmente exigente» (o que confere a generalização da praxe), calculo que, a terem levado as cobaias ao Estádio Alvalade XXI, à Cinemateca Portuguesa ver um filme de Manoel de Oliveira ou os terem obrigado a preencher os «C's» um a um onde faltam ao longo do jornal brasileiro Expresso, uma pessoa fique com pouca paciência para correr numa passadeira rolante ao som de Madonna. Ou isso ou, muito provavelmente, obrigaram as cobaias a ler vários estudos imbecis como este.
Por todas estas razões e mais algumas, não se percebe como nós, comuns mortais, criaturas ignorantes do reino da Natureza, não compreendemos o conselho dos cientistas para «fazermos exercício físico depois de um dia de trabalho árduo». Isto quando, claramente, esta é a cura ideal para o cansaço: a ultrapassagem por excesso.
Não me admirava que, de estudo em estudo, nos levassem, num futuro próximo, a trabalhar 18 horas por dia enquanto nos convenciam que o cansaço, na realidade, estava só na nossa cabeça. Como se a cabeça fosse a arredacação ou o galinheiro vazio onde ninguém vai a não ser para dar o lanche ao primo deficiente mental (costumes rurais, há que respeitá-los). Ainda assim, confesso, preferia trabalhar todas essas horas se, ao menos, me garantissem que não teria de ler estudos como o que aqui citei. Com sorte, imbuído desse espírito de felicidade e liberdade, ainda ía dar uma corridinha ao ginásio à procura de um decote que me atraísse para uma estatística qualquer.
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