Quem ler o caderno P2 do Público de hoje encontrará uma surpresa: Miguel Esteves Cardoso a ameaçar voltar à sua boa forma mental e criativa. Pelo menos já calçou as chuteiras. Fica um pouco do perfume do futebol (nostálgico para mim) de MEC no artigo de hoje:
«Não aconselho a ninguém ouvir muitas horas de fóruns radiofónicos. As vozes na cabeça não se vão embora. Parece ter havido festa da grossa na sala mental onde iam as minhas palavras quando queriam estar à vontade.
(...) "Eu não acredito na crise: a crise somos nós que a fazemos."
Há aqui dois espectros em jogo: o espectro da confiança e o espectro da culpa. O primeiro depende de quanto se acredita no que "eles" (os que mandam neste país e enriqueceram à custa dele) dizem. A posição mais portuguesa é a do meio, porque nunca falha:
"Desconfio que não seja bem assim..." Como nunca é bem assim, nunca se faz má figura. Se as coisas estão muito piores ou piores do que eles dizem, também funciona porque o "não ser bem assim" aguenta uma carga irónica tão pesada quanto convier.
O espectro da culpa depende do grau de culpa que se atribui a "eles". Aqui a posição mais portuguesa é radical, mas, ao mesmo tempo, assegura que não se venha a ser desmentido: "Minha é que não é, com certeza..." Passa por gracejo, mas, subentendida, há uma circunspecção: se calhar ele sabe quem são os culpados, mas prefere guardar segredo, por enquanto. (...)»
Sem comentários:
Enviar um comentário