25/08/10

As bad as it gets



O Tiago, em boa hora, menciona uma figura que, se não fosse de uma área política à qual me ligo racional e irracionalmente, me passaria completamente ao lado.

Minto. Henrique Raposo passa-me, de facto, ao lado. E literalmente. Quando faço o sacrifício de ir ler Rui Ramos, rogo sempre pragas à Redacção daquele infernal jornal brasileiro por resolverem encavalitar um excelente historiador numa página que, não raras vezes, junta o pior de Portugal: o Bloco de Esquerda; um contribuidor ocasional que, regra geral, deve pouco à inteligência e ainda menos aos poderes de cativar um leitor que seja; e, inevitavelmente, Henrique Raposo, delfim do «liberalismo de pacotilha» que o Tiago, conservador da linha «Estou-me a Cagar», bem refere. Se outra opinião não tivesse, bastar-me-ia dizer que o melhor daquela página acaba por ser o Daniel Oliveira, o que, sejamos francos, diz muito sobre Henrique Raposo.

Raposo passa-me, pois, literalmente ao lado. Mas de forma dolorosa, devo confessar. Aliás, para chegar aos obituários escritos por José Cutileiro, já várias vezes cruzei a página de Henrique Raposo e acabei com um cotovelo ou um ombro esfolado. Por vezes uns arranhões. Nada de mais, é certo, mas dói ver o liberalismo representado assim, numa mistura de estilos que, futebolisticamente, se poderia classificar como Jaime Pacheco meets Louis van Gaal: o pior do confronto homem a homem junta-se ao pior do academismo.

Imaturo, irritante e mentalmente preso na Guerra Fria, Henrique Raposo traz para a mesa uma velha questão moral: deve-se bater no ceguinho? Deve-se continuar a massacrar quem acredite, séria mas ingenuamente, que o «Estado Social» vai durar para sempre? Eu acho que não. Raposo acha que sim. Tem todo o direito. Podia era escrever menos vezes o mesmo, e variar de estilo.

Por muito que, lá no fundo, o meu país ideal seja o país ideal deste cronista, a forma histriónica e, paradoxalmente, maçante com que escreve faz com que a sua seja uma das piores colunas de um jornal que só ainda não chegou mais baixo que os trabalhadores da Mina da Panasqueira. «All the king's horses and all the king's men / couldn't put Humpty together again». Tivesse Henrique Raposo a forma de um ovo, e este seria o melhor epitáfio para a sua coluna.

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