Oliveira Martins - quem mais? - destila, mais uma vez, neste blog, o seu desdém pelos optimistas. Desta feita, num dos volumes de artigos de Política e História:
«Pessimismo. Com este labéu se apodam os que, nos tempos descuidados e serenos, ousam analisar, julgar e dizer com clareza os perigos inevitáveis do futuro. Chama-se-lhes gente azeda, de maus fígados, criaturas incómodas que vêm interromper o ciclo da sociedade bem comida e bem bebida.
Um dia, porém, ouve-se o dobre de finados; e foram sempre os pessimistas aqueles que mais corajosa e denodadamente souberam encarar a crise, com a alma segura e a consciência serena.
Os optimistas da véspera, aterrados, apertam a cabeça com as mãos, e perdida a fortuna, perdem o sangue-frio. Os cépticos riem à socapa, cogitando nos meios de medrar com a própria desgraça; e os críticos dizem como na fábula a formiga à cigarra: Cantaste? Pois dança agora!
(...) O que nós todos, pessimistas, quereríamos é que as lições da história servissem para alguma coisa; e que, em vez de declamações fúnebres de desespero, em vez de pataratices de um messianismo fora do tempo, porque já passaram as idades de Babilónia e o espírito do profetismo; em vez de toda essa farragem que não é mais do que um novo sintoma de cachexia senil, puséssemos corajosamente mãos à obra do nosso rejuvenescimento. O pessimismo é a escola da coragem*.»
*O bold é da minha inteira autoria, responsabilidade e bom gosto.
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