09/09/10

Super Mario, working class hero




Grassa a ignorância na juventude portuguesa. Sobretudo naquela que já não é juventude coisa nenhuma, ou seja, os nascidos na aurora dos anos 80. Nasceram no meio das lantejoulas, das calças justas de cabedal, dos cabelos aparados com a mesma excentricidade que se aplica às sebes do Palácio de Versailles, do Vanilla Ice, dos yuppies que aceleravam avenida fora nos seus carros descapotáveis. Ou seja, tinham os piores valores do mundo: velocidade, pseudo-estilo, cabelos ridículos, e má escolha de roupa (quando a havia).

E é essa massa ignara que cresceu a admirar... o Sonic, the Hedgehog. Sobretudo, preferindo-o ao Super Mario. Sonic é um bicho convencido, vaidoso, com cabelo e velocímetro descontrolados tal como qualquer yuppie dos anos 80. Luta contra os gordos e sofre do pecado da hubris, crente na sua capacidade para vencer tudo e todos que se cruzem à sua frente. Não será por acaso que os seus maiores inimigos sejam, na verdade, iguais a ele mesmo.

Agora vejamos o Super Mario. Italiano humilde e da classe operária, Mario é um tipo de meio idade patusco e anafado, bonacheirão e descuidado com o seu aspecto. Mas trabalhador. Muito trabalhador. Tanto que nunca tem tempo de chegar a casa e mudar de roupa, partindo assim para a aventura de forma frugal, com a roupa que traz no corpo do local de trabalho. O bigode é farto e desinteressado, com ar de não ver uma tesoura há várias semanas. A sua missão na vida? Arranjar canos e sanitas. Sem vaidade. E fá-lo sem pedir honras, sem medo de lhe caírem «os parentes na lama». Os seus aliados? Outro canalizador, seu irmão. Não há mais aliados. Não tem exército, para além de um dinossauro (que, para ser franco, não sei de onde saiu).

E, desinteressadamente, sem vontade de salvar o mundo, parte para aventuras que lhe podem custar a vida. O objectivo? Salvar uma princesa, que, não por acaso, é objecto do seu amor.

Haverá algo mais profundo, desinteressado e conservador do que isto? Penso que não. Super Mario é uma ode à humildade e, simultaneamente, à nostalgia da vida simples. E quem se perde de amores por bichos azuis, que fazem do show off o seu objectivo de vida, nunca poderá perceber isto. Nem porque é que um jogo tão simplório como o Super Mario Bros pode ser tão viciante.

2 comentários:

  1. Tu permites esta afronta, Tiago?

    Depois de ler esta barbaridade de post, só tenho uma coisa a dizer: lamento informar, mas o Super Mario é na verdade o Ron Jeremy...

    Long live Sonic, The Hedgehog!

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  2. Se permito a afronta? Não permito. Por isso a honra do Sonic acaba de ser salva a um post de distância. Porque a honra de um ouriço é a honra de todos nós.

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