21/10/10

A falácia da «responsabilidade política»




Se há coisa pior do que dirigir-me ao meu cubículo eleitoral em Janeiro e ver opções como Fernando Nobre, José Pinto Coelho ou Manuel Alegre tão acessíveis ao voto dos cândidos e dos loucos, é mesmo ver o tango que Passos Coelho e José Sócrates têm andado a dançar nos últimos meses. Sem grande responsabilidades para Passos Coelho enquanto líder do PSD, claro. Tirando o facto de não compreender que a melhor maneira de enfrentar - do ponto de vista partidário - um governo em queda é, simplesmente, ficar calado e não se deixar «contaminar», não se pode dizer que o líder do PSD já tenha destruído o partido, ao contrário do que muitos, incluindo eu, esperariam.

Não, o problema de Passos Coelho é outro completamente diferente. O problema dele, e cujas responsabilidades só a ele cabem, é continuar a pactuar com um governo que já tem caixão mas ao qual apenas falta uma data certa para cair. É prolongar durante meses a negociação de um Orçamento de Estado que está condicionado por todos os lados, quer pela herança que o PS quer deixar, quer pela preparação do terreno para as próximas eleições.

Inevitavelmente, enquanto «cara» da oposição ao governo, os Passos Coelho determinam o ritmo de toda a política nacional, e associar-se a um Orçamento que mais não fará do que incluir o PSD na responsabilidade da devastação económica de Portugal acaba por ser, ao contrário do que toda a gente pensa, mais um acto irresponsável do que de «responsabilidade política»: primeiro, o PS poderá dizer, daqui a poucos anos ou, até, meses, que as contas públicas continuam mal mas que o PSD não pode dizer que não compactuou com o plano orçamental; segundo, dá um balão de oxigénio a um governo caído em descrédito; e terceiro, o mais grave de tudo, prolonga o sofrimento do país, que, ainda que não tenha alternativas muito melhores, já está preparado para escolher pessoas e ideias diferentes para os próximos anos.

Resta saber se, com a estratégia da «responsabilidade política» - apenas virtual num país que sabe funcionar sem directivas, dependências e lutas partidárias -, o tiro não sai pela culatra a Passos Coelho.

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