03/11/10

O «promessômetro» e o terceiro mandato de Lula



Dizem as más-línguas que Dilma Rousseff é a nova Presidente do Brasil. Não sou tão cínico. Digo, simplesmente, que Dilma ganhou as eleições. E não cedo ao sarcasmo fácil de dizer que agora Dilma vai «governar», sozinha e com total liberdade decisória.

Mas mudemos de assunto. Não felmos de Lula. Concentremo-nos no discurso claro e muito rico de vitória, de Dilma Rousseff. A candidata vencedora não se fez rogada. Se a criatividade já é pouca, ela foi um pouco mais além e teve o ponto baixíssimo ponto de originalidade de dizer que a sua vitória era a vitória não só do «caminho sagrado do voto» - seja qual for a influência divina que ela reconhece no momento de ir ao cubículo pôr a cruzinha (cala-te boca) - mas das mulheres. Num «yes, we can» bastante pobrezinho, Dilma não resistiu a dizer que «sim, a mulher pode!». O povo brasileiro ficou, então, a saber que não votou num político competente, mas que, pelo contrário, participou numa experiência sociológica muito interessante que visava provar a capacidade demagógica de um candidato presidencial que a roleta divina, só por acaso, não dotou de genitais masculinos.

Vejamos, no entanto, o que interessa: o programa eleitoral, se é que lhe podemos chamar isso. Tal como o «promessômetro» da Folha de S. Paulo ajudou a compreender, as promessas eleitorais de Dilma não fazem qualquer sentido, seja pela sua viabilidade, seja pela própria correspondência material das mesmas. Começemos pela primeira perspectiva. Dilma prometeu abrir 6.000 creches no país, fazendo-nos lembrar a mítica promessa de criação de empregos de José Sócrates, e, como bem calcula a Folha, seria preciso inaugurar creches a um ritmo médio de 4 por dia. Para além disso, planeia lançar um programa de bolsas ou vouchers para alunos carenciados frequentarem escolas particulares (boa ideia, mas pesadíssima para um Estado já com funções de Welfare), reformar a saúde sem impostos adicionais, criar um ministério novo (para o Empreendedorismo), «promover a liberdade de imprensa e de religião», proteger os «direitos humanos» e, na melhor de todas as promessas, erradicar a pobreza.

Erradicar a pobreza. Ou seja, Dilma promete um número de magia. Não mais teremos pobres no Brasil. Porquê? Porque a economia criará empregos que cheguem para grande maioria dos brasileiros? Porque os ordenados correrão mais rápido do que a taxa de inflação? Porque o custo de vida baixará? Não. Porque Dilma assim o quer.

É esta a mentalidade infantil de alguém que vence uma presidência. Poucos anos depois de ver George Bush (filho) sair da Casa Branca sob apupos de ignorante, incompetente e de criatura que fez pactos de sangue com Satanás himself, os mesmos europeus aplaudem agora a eleição de alguém que, mais do que provar em toda uma campanha a sua incapacidade para planear um mandato (tem, até, dificuldade em passar de uma ideia geral de felicidade para um conceito mais concreto, como a «erradicação da pobreza» amplamente prova), mostra que não tem, sequer, capacidade para se distanciar do seu padrinho e prometer ser um exemplo.

Ao dizer que «baterá muitas vezes à porta de Lula», Dilma Rousseff pensou que capitalizava um pouco mais a popularidade de Lula e transferia-a para si mesma. Na verdade, o que ela fez foi confirmar, um pouco mais, aquilo que todos sabem: a candidatura de Dilma vendeu-se como um sabonete pelo simples facto de ser mulher. Falta-lhe um cérebro, e falta-lhe independência. E faltam-lhe argumentos contra a ideia de que este é um terceiro mandato presidencial de Lula. Opá... lá acabámos novamente a falar de Lula.

3 comentários:

  1. São todos farinhas do mesmo saco. Mas a farinha Serra é de qualidade pior. É preciso morar no Brasil para saber isso. No entanto, o seu texto está ótimo! Concordo com tudo o que você expôs aqui. Mas é bom enfatizar que dos males que nos dispuseram a escolher, ela era, de fato, o menor. Posso lhe dar uma dica divertida de um site? Lá vai:http://www.sensacionalista.com.br/wordpress/

    Veja, em particular, isto:
    http://www.sensacionalista.com.br/wordpress/?p=59

    http://www.sensacionalista.com.br/wordpress/?p=1622 (isto se refere ao ridículo episódio sas bolinhas de papel na cabeça deste senhor alguns dias antes das eleições; sem dúvida, uma das cenas mais patéticas da história recente de nossa política)

    E o melhor de todos: http://www.sensacionalista.com.br/wordpress/?p=1748

    Divulgue o site. Fazer o quê, né?

    ResponderEliminar
  2. Caríssima Raquel,

    Serra, de facto, não é propriamente Churchill. Nem sequer um Truman. E acredito que é preciso ser diariamente bombardeado pelas campanhas para apanhar todos os defeitos e, num mundo perfeito, apanhar também todas as pistas para descobrir uma ou outra qualidade nos candidatos. E eu, até em Portugal tenho dificuldades em «querer votar» em qualquer um.

    Mas também desconfio que será preocupante ir em busca de um «mal menor» e, Deus nos valha, encontrar a Dilma... Vá-se lá compreender os desígnios divinos.

    ResponderEliminar
  3. altamente inspirado sim senhor. que anormalidade ainda dizem que deus fez o homem, vá-se lá entender esta escumalha que tem a mania que sabe tudo.

    ResponderEliminar